Não são apenas as mulheres que precisam se preocupar com o HPV --papilomavírus humano. Embora o vírus seja associado ao câncer do colo de útero, pesquisas mostram que ele pode influenciar o surgimento de tumores no pênis e também o câncer de cabeça e pescoço --mais comum em homens.
Um estudo recente do Inca (Instituto Nacional do Câncer), em parceria com o Instituto de Virologia da Fiocruz, com 80 pacientes com câncer de pênis, mostrou que 75% dos casos apresentaram o vírus do HPV.
No caso de tumores em cabeça e pescoço, o vírus estava presente em 15% a 20% dos casos, afirma Ullyanov Toscano, coordenador da residência médica em cirurgia e pescoço do Inca.
Em todos os casos, a contaminação pelo vírus está associada à prática sexual. De acordo com Toscano, supõe-se que o câncer de cabeça e pescoço esteja ligado ao sexo oral, embora também exista a hipótese de que o vírus, após entrar pela região genital, possa se espalhar para outras áreas do corpo.
A camisinha diminui o risco de transmissão do vírus, mas não evita totalmente a contaminação, afirma o ginecologista Wladimir Taborda, do Instituto do Câncer Octavio Frias de Oliveira. Isso porque o vírus também pode estar presente na região perianal, nos testículos e nas coxas, e ser transmitido mesmo sem penetração.
A vacina protege contra alguns sorotipos do vírus, como o 16 e o 18. Mas Toscano ressalta que não existem ainda pesquisas suficientes que comprovem o efeito da vacinação no câncer de cabeça e pescoço.
Para o urologista Antonio Augusto Ornellas, que liderou a pesquisa no Inca, os homens deveriam sim tomar a vacina. "Se eu tivesse um filho de 12 ou 13 anos, faria com que ele se vacinasse. A quantidade de garotos que temos visto nos consultórios com HPV no pênis é muito grande", afirma. "Em primeiro lugar, seria bom para prevenir a infecção das mulheres. Em segundo lugar, devido a essa relação entre o vírus e o câncer de pênis."
A discussão em torno da vacinação dos homens envolve a questão econômica --a vacina contra o HPV só está disponível em clínicas particulares, e o indicado são três doses.
A Gardasil, da Merck Sharpe & Dome, protege contra os sorotipos 6, 11, 16 e 18 e custa cerca de R$ 400. Já a Cervarix, da GlaxoSmithKline, protege contra os sorotipos 16, 18, 31 e 45 e custa R$ 296.
Principais causas
Apesar de o HPV desempenhar um papel significativo no surgimento desses tumores, as principais causas --e estratégias de prevenção-- são outras. O câncer de pênis, por exemplo, está associado à falta de higiene. A fimose é um fator importante, já que dificulta a limpeza da região --no estudo realizado pelo Inca e pela Fiocruz, também foi constatado que 97% dos pacientes têm fimose.
Já o câncer de cabeça e pescoço é relacionado ao consumo excessivo de álcool e de cigarro. Essas substâncias geram uma irritação repetitiva na mucosa e a cicatrização exacerbada pode levar a uma multiplicação celular mais acentuada --com o risco de, nesse processo, ocorrerem mutações.
Segundo Marcelo Doria Durazzo, responsável pelo ambulatório de câncer de boca do Hospital das Clínicas e diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, o que se observa no HC é mais de 80% de associação com tabagismo e 60% de associação com abuso de bebidas alcoólicas. Dados americanos mostram que a associação com o HPV é de 20% para o sorotipo 16 e de 14% para o sorotipo 18, afirma.
Tratamento
O tratamento para o câncer de cabeça e pescoço é o mesmo independentemente do agente causador: cirurgia associada a radioterapia ou quimioterapia.
Entretanto, observa-se que os tumores de pacientes que não fumam nem bebem --cuja origem pode estar na contaminação por HPV-- têm uma evolução mais grave, afirma Toscano, do Inca. Além disso, as neoplasias associadas ao papilomavírus acometem pessoas mais jovens, entre 30 e 50 anos.
De modo geral, os tumores de cabeça e pescoço ocorrem geralmente em pessoas de 50 a 70 anos. Os homens são os mais atingidos --embora esse quadro esteja mudando. A proporção, que era de quatro homens para cada mulher, hoje está em dois para um. No Hospital das Clínicas, as mulheres representam 31% nos pacientes de câncer de boca, afirma Durazzo.
Já o tratamento do câncer de pênis depende do estágio da doença. É possível usar radioterapia e quimioterapia, mas a cirurgia é o procedimento adotado com mais freqüência. Quanto mais precoce for a detecção, mais curável é a doença. Mas, de acordo com o Inca, mais da metade dos pacientes só procura ajuda médica mais de um ano após o surgimento das lesões iniciais.
da Folha Online
Por julgar muito importante esta conclusão aqui fica a divulgação.
1 comentário:
Raúl,
Infelizmente há sempre dois assuntos que estão relacionados, e não são falados um sem o outro.
Vacinação versus custo das vacinas. É hora de acabar com isto, e colocar a saúde acima de todas as prioridades. Se os governos quiserem não falta dinheiro para a saúde. É só saberem fazer a sua distribuição de acordo com as prioridades, e terem a capacidade de decidirem as prioridades certas.
Abraço.
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