domingo, junho 21, 2009

Nova droga aciona "botão antipânico" no cérebro

AFRA BALAZINA

da Folha de S.Paulo

Pesquisadores da Europa podem ter descoberto como acionar um dispositivo antipânico no cérebro. Após realizarem testes em roedores e em 71 voluntários, eles mostraram que um novo componente poderá, no futuro, combater ataques de pânico e ansiedade sem os efeitos colaterais dos remédios mais usados hoje em dia.

A maioria das drogas contra ansiedade age dosando a liberação e a absorção de neurotransmissores (moléculas que carregam impulsos químicos) em certas áreas do cérebro.

Esses compostos, como os benzodiazepínicos, são eficazes contra a ansiedade, mas causam uma série de efeitos que vão de sonolência a vício.

O componente testado pelos pesquisadores, uma molécula chamada XBD173, estimula a atividade de uma proteína que ajuda no transporte de moléculas de colesterol e permite que algumas sejam convertidas em um outro tipo de molécula, os chamados neuroesteroides --cujo nível cai no cérebro durante um ataque de pânico.

Estes, por sua vez, regulam o efeito de uma molécula chamada GABA (ácido gama-aminobutírico), neurotransmissor relacionado ao relaxamento.

Para a realização do estudo, os voluntários, saudáveis, eram induzidos a ter ansiedade por meio de um peptídeo (pedaço de proteína) que leva a um sentimento breve de pânico.

"Há uma boa chance de que funcione em pacientes com ataques de pânico, mas isso ainda precisa ser testado", afirmou à Folha o psiquiatra Rainer Rupprecht, da Universidade Ludwig Maximilians, em Munique, na Alemanha.

Segundo ele, a molécula foi administrada oralmente aos voluntários durante sete dias seguidos. Eles foram divididos em grupos: um recebia placebo, outro doses variadas de XBD173 e o terceiro, a droga contra ansiedade alprazolam. Os voluntários que receberam 2 miligramas de alprazolam ou a mais alta dose de XBD173 (90 miligramas) tiveram menos ansiedade do que aqueles que receberam o placebo.

O composto, ainda, causou menos efeitos colaterais do que o alprazolam. Quem foi tratado com alprazolam, por exemplo, teve uma acentuada redução da atividade locomotora.

Abstinência e tolerância

Foram notadas diferenças também após o tratamento. "Enquanto 57% das pessoas tratadas com alprazolam reclamaram de sintomas de abstinência, tais como distúrbios do sono ou agitação, isso foi praticamente ausente nos voluntários tratados com XBD173", afirma o artigo, na edição on-line do periódico "Science".

Outra questão relevante no tratamento de ansiedade e ataques de pânico, além da avaliação dos efeitos colaterais e de sintomas de abstinência, é o desenvolvimento de tolerância aos remédios -a necessidade de usar doses cada vez mais altas para ter o mesmo efeito.

Por isso, os pesquisadores testaram a tolerância em animais. A molécula XBD173 foi administrada duas vezes ao dia por cinco dias nos roedores.

"Sua atividade ansiolítica neste teste foi plenamente mantida com esta administração", informa o artigo.

Para o neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra, o estudo é importante pela sua potencial aplicação.

De acordo com Rupprecht, o objetivo do grupo é dar continuidade à pesquisa com a realização de testes clínicos com maior número de pessoas. Outra possibilidade, afirma, é atuar no desenvolvimento de compostos de ação similar à molécula XBD173. "Isso depende do desenvolvimento dos planos industriais", diz.

Participaram da pesquisa cientistas ligados à farmacêutica suíça Novartis.

da Folha Online

Se esta droga agora descoberta produz efeitos secundários menos gravosos que as que actualmente existem no mercado, é muito bem-vinda

1 comentário:

Å®t Øf £övë disse...

Raúl,
É a ciência em constante evolução, e a provar que o mundo não pára.
Abraço.