sábado, março 24, 2007

Lei sobre retirada de tropas do Iraque deve ser derrubada nos EUA

ANDREA MURTA
da Folha Online

A vitória apertada dos democratas na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos nesta sexta-feira, que levou, por uma diferença de seis votos, à aprovação de uma lei que exige a retirada das tropas americanas do Iraque em 2008, é sinal claro das dificuldades que a medida enfrentará na semana que vem, quando será votada no Senado.

Para o director-associado da Escola Wagner de Serviço Público da Universidade de Nova York (NYU) Rogan Kersh, 41, o destino da lei está claro: a derrota.


Políticos saem do Capitólio; Câmara dos EUA aprovou lei sobre retirada de tropas do Iraque
15.mar.2007/Reuters

"Acho que a lei não vai passar. O Senado derrotou uma medida muito similar na semana passada, quando foram contabilizados apenas 48 votos a favor --são necessários 60 para a aprovação-- e não vejo como eles conseguiriam conquistar mais 12 votos agora", afirmou Kersh, que falou de Nova York, por telefone, à Folha Online.

Com um resultado de 218 votos a favor e 212 contra, a Câmara determinou hoje o prazo de até 1º de Setembro de 2008 para a retirada total das forças americanas do Iraque. Até agora, o presidente americano George W. Bush se recusou terminantemente a discutir a fixação de um prazo para a retirada, e a insistência do Congresso dominado pelos democratas é o mais forte símbolo da oposição política à Casa Branca.

Para vencer os legisladores resistentes, os democratas juntaram a exigência da retirada à legislação que autoriza o uso de US$ 124 bilhões em fundos de emergência para os EUA, a maior parte destinada para as guerras do Iraque e do Afeganistão. Enquanto há dúvidas quanto ao prazo, uma liberação de fundos desse vulto é difícil de ser recusada.

Bush

A aprovação da lei foi imediatamente criticada pela Casa Branca, que afirmou que irá vetá-la caso o texto chegue à mesa do presidente. Um Bush visivelmente irritado classificou hoje a medida de "ato teatral" que prejudica as tropas em combate.


Mercado em Bagdá pega fogo após ser atingido por dois carros-bomba
12.jan.2007/Reuters

"Não acho que a lei seja uma farsa, um teatro apenas para mostrar oposição", diz Kersh. "O fato de a liberação de US$ 124 bilhões dependerem desta aprovação mostra que a medida é para valer." Segundo o especialista, como o Congresso tem o poder para "declarar guerra", ele também poderia dizer por quanto tempo tropas americanas devem ser deslocadas para combates.

"Há dinheiro envolvido. A medida também prevê fundos para as tropas em combate. Isso torna a lei mais difícil de ser rechaçada pelos republicanos", completa.

Mas há reservas. Para Kersh, a linguagem da lei no que se refere à retirada das tropas é muito vaga e poderá gerar disputas. "Mesmo se a lei passar, não está claro o que aconteceria caso ela não fosse obedecida. A lei não prevê uma punição se as tropas continuarem no Iraque depois de 2008."

Caminhos

É cedo para prever os caminhos que medida tomará a seguir. Se o Senado contrariar as expectativas e aprovar a lei, as coisas se complicam para Bush. Desde que chegou ao poder, em 2001, o presidente americano usou seu poder de veto contra uma única lei: a que permitia pesquisas com células-tronco, bloqueada por Bush no verão de 2006.

Nesse cenário, um veto agora teria um peso político muito importante.

"Para Bush, usar seu poder de veto contra essa medida seria um ato perigoso. Como é muito raro que ele vete alguma coisa --na história moderna americana, ele é o presidente com menor número de vetos--, haveria muito escrutínio público", afirma Kersh.

Se o veto vier, aí o problema volta para a oposição. Nos EUA, um veto presidencial pode ser derrubado por uma maioria de dois terços do Congresso. No Senado, a margem para aprovação passaria de 60 para difíceis 67 votos a favor.

Dadas as dificuldades que os democratas já têm para conseguir votos favoráveis, não é fácil imaginar que essa super maioria pode ser atingida.

Pressão efeitos

Apesar do cenário desfavorável, os democratas parecem decididos. Kersh, no entanto, afirma que a pressão democrata não funcionará com Bush. Para o especialista, há um compromisso ideológico muito grande do governo americano com a guerra no Iraque. "Bush nunca dirá formalmente que irá retirar as tropas em um prazo determinado."

Bush prometeu vetar lei com cronograma de retirada das tropas do Iraque
19.mar.2007/AP

Ele não afirma, no entanto, que a retirada é impossível. "Bush poderá começar a retirar as tropas gradualmente e aí sim anunciar a retirada, como um ato em andamento", diz. "Ele é muito teimoso, e não consigo visualizá-lo voltando atrás nessa questão do prazo."

Politicamente, a posição de Bush não ameaça apenas sua própria administração. Na opinião de Kersh, se não houver mudanças nas condições actuais do Iraque até o próximo ano, quando será disputada a Presidência americana, "as consequências para os candidatos republicanos serão terríveis".

Mas os democratas também não estão seguros. "O público americano detesta disputas entre o Congresso e o governo. Normalmente, um conflito constitucional como esse prejudica tanto a Casa Branca quanto os legisladores", avalia o especialista.

Ele considera, no entanto, que a provável derrota não é reflexo de uma eventual fraqueza do Partido Democrata, que tomou o controle do Congresso em 2007 pela primeira vez em 12 anos. "Este é um partido bastante fragmentado, mas estou impressionado com a unidade dos democratas na Câmara e no Senado sobre vários assuntos, como lobby e Orçamento. O problema é que o Iraque é um assunto demasiadamente complicado."

Este facínora não tem vergonha na puta da cara e por isso vai levar até ao fim a carnificina que está a provocar no Iraque. Será que o resto do Mundo terá um dia coragem de o julgar por este crime que lesou os iraquianos.

Sem comentários: