E por mais que matute não consigo encontrar a relação do porquê deste fenómeno. Eu pela idade que tenho sou do tempo em que vindo de Angola de férias e em visita à minha avó Teresa na aldeia de Roios, do concelho de Vila Flôr, na província de Trás-os-Montes, causava-me uma certa preocupação o facto de ninguém naquela aldeia ter o hábito de fechar as portas com chave nem sequer a porta principal da acesso à rua. Foi um hábito que naquela região se cultivou durante várias décadas. Ou seja ninguém se atrevia a roubar nada e se porventura houvesse como aliás existia quem vivesse com mais dificuldades a restante população ajudava. Cultiva-se pois naquela altura, já lá vai mais de meio século, o sentimento de entreajuda sem sequer haver a necessidade de instituições de solidariedade social, para que a chamada pobreza envergonhada por elas vissem atenuado o seu problema. Postos de polícia só existiam nas sedes de concelho e normalmente com um reduzido número de efectivos, fazendo estes o policiamento a pé ou a cavalo. E as esquadras de polícia que apenas existiam nas sede dos distritos, eram dotadas apenas de jipes e motos ou motorizadas. Hoje em dia qualquer povoação reclama um posto de polícia e no caso das sedes das juntas de freguesia estão todas dotadas de esquadras de polícia, com várias viaturas estacionadas junto das mesmas e nas quais se fazem transportar os agentes.
E esta proliferação crescente de postos e esquadras de polícia está longe, mesmo muito longe de significar a garantia de segurança dos cidadãos, face à crescente criminalidade. Ou seja, a delinquência paradoxalmente cresce na proporção do número de agentes de autoridade, desconhecendo nós os limites das fronteiras onde actuam uns e outros ou se elas se cruzam. O avanço civilizacional que se operou nas últimas décadas, já não permitem que as avós Teresas deixem mesmo de noite as portas de acesso à rua apenas fechadas no trinco e durante o dia quando vão para a faina na lavoura o procedimento manter-se. As portas têm de ficar fechadas à chave e de preferência trancadas, sob pena poderem de dia ou mesmo de noite ser assaltadas.
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