domingo, fevereiro 25, 2007

Estavam mal habituados mas a mama está a acabar

Não existe neste país nenhuma classe de licenciados que após a conclusão da sua licenciatura, tivesse garantido emprego como acontecia com os médicos. Terminada esta ficavam nos hospitais civis onde com a continuidade de garantia de emprego iam alguns tirando as suas especialidades, para depois muitos deles largarem o Estado e exercerem medicina privada. Ao longo de décadas foi um verdadeiro maná.
Acabei de ouvir há pouco uma recém licenciada em medicina toda indignada porque diz que investiu mas o Ministério não cumpriu com a sua obrigação ao não garantir-lhe lugar no concurso então realizado para estagiários. Ela investiu como investe qualquer outro universitário num qualquer outro curso que escolha para se licenciar. Só com uma diferença, até aqui os médicos tinha sempre garantido o seu emprego mas agora parece que isso acabou e foi muito bem acabado. Desde quando se justifica manter-se um privilégio destes, para depois após obterem uma determinada especialização tirada a expensas do erário público saltarem para o sector privado onde ganham rios de dinheiro.
Todos nós sentimos que o SNS está viciado. Não se cumprem horários, os médicos não param nos Centros de Saúde, para diversas razões. Ou estão em congressos ou doentes ou pura e simplesmente ninguém sabe deles. E quando aparecem para dar consultas é normalmente tarde e más horas e depois de atenderem 4 ou cinco doentes está o dia ganho.

2 comentários:

Quintanilha disse...

Os médicos e os Professores, até há bem pouco tempo!

Boddidharma disse...

Antes de mais, devo dizer que no seu espaço cada um escreve o que quer, como quer e quando quer. No entanto, manda a sensatez que, ao fazê-lo, escrevamos com algum conhecimento de causa e observemos a preocupação de abraçar a questão no seu todo.
Sou médico, não dos que agora correm o "perigo" de não ter emprego, mas dos que já se licenciou há alguns anos (4), os suficientes para fazer o seu internato geral e ingressar na especialidade. Sou, portanto, dos que aproveitam a "mama"....
Poderia alongar muito este comentário já que o seu post tinha muito por onde pegar mas deixo apenas dois pontos para pensar:
1º O problema da medida do governo é a intenção de a aplicar a colegas recém-licenciados que ingressaram no curso quando as "regras" eram outras...não se mudam as regras depois de se iniciar o jogo. A avançar com uma medida deste tipo, deveria contemplar apenas os que entrassem no curso após o seu anúncio.

2º (e mais importante) não garantir colocação a todos os novos colegas é um "tiro nos pés" porque afecta, em última análise, o Estado, ou seja, todos os cidadãos. Admitindo que terei dificuldade em ser imparcial, mas crendo que estou a ser tão objectivo quanto possivel, o que torna a Medicina e os médicos tão especiais é o facto de ser uma área e um grupo de profissionais treinados para liderar com algo que tem tanto de inevitável quanto de precioso: vida/morte e saude/doença. Assim sendo, e porque da necessidade dos médicos ninguem pode fugir, aquilo que não for gratuito (providenciado pelo SNS), as pessoas não terão outro remédio senão comprar...


PS: Este comentário não anula o que disse acerca de alguns maus colegas que efectivamente se esqueceram com o passar dos anos, ou nunca souberam bem, porque abraçaram a nobre arte/ciência da Medicina.