SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online
Os blogueiros riram por último. No início, eram esnobados pela mídia tradicional, vistos como uma brincadeira inconseqüente, de alcance restrito, sem viabilidade econômica nem prestígio. Estavam condenados ao esquecimento. Jamais fincariam pé na arena pública, ameaçando o espaço das castas, com interferências no discurso veiculado ao grande público. A reviravolta aconteceu. Os blogs invadiram o "show business" e se adaptam às velhas regras do jogo.
Maior emissora de TV do país, a Globo se rendeu ao poder dos blogs --pelo menos, o "Caldeirão do Huck", programa para jovens nas tardes de sábado, horário que, no passado, era ocupado por um ícone como Chacrinha ("quem não se comunica se trumbica"; morreu em 1988; se vivo, já teria seu blog). No próximo sábado, durante dez minutos, o blogueiro Antonio Tabet, criador do "Kibe Loco", terá um quadro de humor no programa de Luciano Huck, popularizando sua máquina de zoar tudo.
É evidente que, em uma TV comercial como a Globo, os blogueiros vão ter menos liberdade e enfrentar mais pressões para produzir e veicular seus conteúdos --o que descaracteriza o sentido e as expectativas que marcam as características originais e revolucionárias de um blog. É melhor encarar esse movimento como um esforço da mídia tradicional de absorver o fenômeno dos blogueiros, capitalizando esse novo formato. A lógica é: se o Kibe Loco tem uma audiência cativa na web, por que não arriscar e fisgar esses internautas para a TV aberta?
A MTV, emissora que hipnotiza a geração "teen" e um termômetro comportamental das tribos urbanas, também aderiu à estética blogueira na temporada 2006. Criou o "VidaLog", onde jovens participam do programa falando sobre seus gostos musicais como um blog.
Não é só na TV que os blogueiros estão virando celebridades. Nas estantes das livrarias, há o fenômeno Bruna Surfistinha, cujo "O Doce Veneno do Escorpião" ficou no topo dos livros mais vendidos no país por quase seis meses. Antes, a história da ex-prostituta que relatava suas experiências sexuais em um blog era citada apenas em notinhas em revistas masculinas. Após o lançamento do livro pela editora Panda, ganhou capas de revistas, presença obrigatória em telebarracos e agora se prepara para lançar o segundo livro e estrear um filme.
Transformar um blog em uma máquina de fazer dinheiro (ou pelo menos pagar as contas do mês) é o desejo íntimo de quem se aventura nesse meio. Pode ser que um blogueiro queira, no final das contas, ser "cooptado pelo sistema" (um verbo típico dos anos 70, hoje uma licença poética), e o blog seja apenas um trampolim fácil e barato para o "pulo do gato", rumo ao "mainstream" (mídia reconhecida e tradicional). Ou talvez, o mundo seja perfeito, e o blog seja um filho que se embala para sempre.
Hoje, o marketing passa pelo blog. Actrizes como Luana Piovani e Samara Felippo, a dançarina Sheilla Mello usam esses espaços no contato com fãs e com a mídia de celebridades. Neste mês, foi a vez do cantor Felipe Dylon lançar seu blog. Daqui a pouco, quem sabe, até o presidente, o governador e o prefeito de seu cidade decidam lançar seus próprios blogs, actualizados por seus assessores --além de Suzane Richthofen (no caso, com mensagens postadas por seu advogado).
No futuro, a massificação de novos formatos de transmitir conteúdos, como o poadcast e o videocast, deve implodir o atual esqueleto dos blogs. Por que o internauta vai se contentar com blocos de texto e imagens estáticas se é cada vez mais comum divulgar vídeos e arquivos de voz pela web (vide YouTube)? Mas o alcance dessas novas ferramentas (vídeo e áudio na web) esbarra na desigualdade social. Nem todo mundo tem banda larga, e as medidas de inclusão digital (barateamento dos micros e expansão da internet nas escolas públicas e comunidades pobres, por exemplo) ainda são tímidas.
A actual geração de "celebridades blogueiras" pode desaparecer na esquina, substituída por outro modismo da internet. Ninguém pergunta mais sobre o seu ICQ, o seu mIRC, o GeoCities e o Cadê viraram um serviço do Yahoo, e ninguém lembra mais do Baby Cha Cha (animação de um bebê virtual dançando, criada em 1996 e popular no final dos anos 90). Os blogueiros correm esse risco na arqueologia da internet, mas por enquanto eles estão dando as cartas.
Comentário:
Fiz questão de transcrever este artigo de opinião como resposta a Pacheco Pereira que em post publicado no seu blog, acha que 90% da blogosfera não passa de lixo. Penso que a sua opinião é desta forma contrariada porquanto muita gente que navega na internet já procura nos blogs muita da sua informação e esta não se resume a artigos de opinião de Pachecos Pereiras, os quais não passam disso mesmo.
1 comentário:
Se eu fosse o Almada Negreiros o Pacheco Pereira seria o Dantas e a ser o Dantas eu diria:
O Pacheco é cafona, o Pacheco não tem estilo, o Pacheco em matéria de Blogs é Pim Pam Pum.
Morra o Pacheco morra pim!
Beijo
E quanto ao teu comentário que me deixaste no meu blog só te posso dizer isto: chocante porque vivido, porque sofrido na pele e nunca será esquecido nem que viva mil anos.
Mas o conto tem continuação... Verás :-)
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