sábado, agosto 05, 2006

Câncer da mama quintuplica entre jovens

CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo

A incidência do câncer da mama em mulheres abaixo de 35 anos quintuplicou no período de cinco anos, revela pesquisa do Hospital do Câncer de São Paulo. A maior prevalência da doença, principal causa de morte entre as brasileiras, ocorre a partir dos 50 anos.

Em 1999, o hospital registrou 17 casos novos de câncer mamário em mulheres abaixo de 35 anos. Em 2004, foram 84. Esse último número representa 16,8% do total de casos novos de tumor mamário que a instituição atende por ano --em média, 500. O esperado seria de 5% a 7%, conforme a literatura internacional.

Segundo o mastologista Mário Mourão Neto, diretor do departamento de mama do Hospital do Câncer, ainda não se sabe o motivo da maior prevalência, que vem sendo observada no mundo todo a partir da última década e que, no futuro, deve provocar uma mudança no rastreamento da doença. Hoje, a mamografia é indicada a partir dos 40 anos.

Mourão Neto diz que, a partir desse levantamento, o hospital iniciou uma investigação epidemiológica dessas pacientes, checando hábitos alimentares, época da primeira menstruação, uso de pílula anticoncepcional etc. A idéia é checar se os casos apresentam dados coincidentes e que poderiam ser considerados fatores de risco.

Ao mesmo tempo, explica o mastologista, será feita uma avaliação de possíveis alterações genéticas, por meio de testes e de biologia molecular. Todos os fragmentos dos tumores dessas mulheres estão congelados no banco de tumores do hospital. Ele diz que 19% das mulheres jovens avaliadas tinham antecedentes familiares para câncer da mama ou para outros tumores correlatos, como o de ovário e de próstata.

Mourão Neto diz que a grande preocupação é o fato de as mulheres jovens estarem excluídas dos programas de rastreamento. Ou seja, mesmo que tenha histórico familiar de câncer da mama, dificilmente uma mulher abaixo de 35 anos tem indicação para fazer mamografia ou ultra-som.

"O tumor na mulher jovem é mais agressivo. Porém, as chances de cura são de 90% quando diagnosticado precocemente."

Para o mastologista, é possível que o estresse, o fato de não ter filhos, o tabagismo, o consumo de bebidas alcoólicas, a exposição à poluição e outros hábitos da mulher moderna estejam entre os fatores que estão levando ao aumento da incidência do tumor mamário.

A mesma tese de que fatores externos estão ligados a esse aumento é defendida por Diógenes Basegio, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia. "O aumento é real e preocupante. A meta agora é descobrir o motivo."

Segundo ele, outro trabalho realizado pela Universidade de Passo Fundo (RS) também detectou uma prevalência de 17% de tumores de mama em mulheres abaixo de 40 anos. O estudo avaliou 315 mulheres, entre 23 e 70 anos. Ele afirma que outros centros universitários brasileiros também estão pesquisando o fenômeno.

O mastologista Antonio Frasson, do hospital Albert Einstein, atribui o maior número de casos à antecipação diagnóstica (as mulheres estão procurando o médico mais cedo) e à melhoria dos métodos de diagnóstico na última década --introdução do ultra-som mamário e da ressonância magnética, dois exames indicados para mamas jovens.

"É possível que a ocidentalização dos hábitos de vida tenham alguma relação com o aumento, mas é preciso mais estudos para comprovar isso."

da Folha Online

Afinal não há motivo para alarme visto que a razão está encontrada, as jovens começam mais cedo a fazer o rastreio para a sua detecção.

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