RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo
Um século depois de o prémio Nobel ser dado a um cientista que usou a coloração de células para explicar o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso, uma equipe de pesquisadores conseguiu usar a engenharia genética para colorir neurónios com dezenas de cores diferentes.
O efeito produz belas imagens visíveis em microscópio, mas é bem mais que isso. A técnica tem o potencial de ajudar a explicar melhor os circuitos neuronais, deixando claro a diferença entre cérebros normais e doentes. E, com isso, ajuda no tratamento de doenças.
O espanhol Santiago Ramón y Cajal (1852-1934) ganhou o prêmio Nobel de Medicina de 1906 por ter explicado o papel fundamental da células nervosas (neurônios) e das redes que elas criam. Ramón y Cajal usou a técnica de coloração celular criada por Camillo Golgi, que aplicara uma solução de cromato de prata, um sal, para escurecer células cerebrais.
O centenário do pioneirismo foi lembrado na primeira frase do artigo apresentando o novo estudo, publicado na edição de hoje da revista científica britânica "Nature": "Cajal revolucionou a neurobiologia quando usou a coloração de prata de Golgi para rotular pequenos núcleos de neurónios em sua totalidade, com isso identificando os elementos celulares dos circuitos neurais".
Um século depois, os cientistas usaram manipulação de DNA para produzir proteínas fluorescentes de diversas cores e com isso "iluminar" os neurónios de camundongos.
O trabalho foi feito por uma equipe de oito pesquisadores do Departamento de Biologia Celular e Molecular e do Centro para Ciência do Cérebro da Universidade Harvard, de Cambridge, Massachusetts, leste dos EUA, liderados por Jean Livet (fazendo um pós-doutorado), Jeff Lichtman e Joshua Sanes.
O resultado é uma espécie de "arco-íris" no cérebro. Em inglês, arco-íris é "rainbow" --literalmente, "arco de chuva" ("rain" é chuva, "bow" é arco). Os cientistas chamaram a técnica de "brainbow", trocando chuva por "cérebro" ("brain"). As cores facilitam a visualização dos eventuais circuitos.
"Se você tivesse um cabo de computador com 100 fios todos da mesma cor e tivesse que rastrear cada um deles, seria praticamente impossível", declarou Sanes à agência de notícias "Reuters". "Mas se os fios tivessem 100 cores diferentes, seria bem mais fácil segui-los para ver onde vão e como se ramificam", disse o pesquisador.
Os cientistas acreditam que a técnica do arco-íris cerebral facilitaria o estudo de doenças como autismo, retardamento mental, distúrbio bipolar e mesmo problemas mais simples, como dificuldades de aprendizagem.
Estudos em psiquiatria têm demonstrando cada vez mais que essas doenças mentais e de comportamento estariam ligadas a problemas nos circuitos. O "brainbow" permitiria checar os possíveis "curtos-circuitos" nessas redes neurais.
Idéia iluminada
Usar a bioluminescência tem sido uma técnica comum entre cientistas para visualizar aspectos do metabolismo e do desenvolvimento de seres vivos. Em geral, isso se faz usando uma proteína que produz uma cor fluorescente verde.
O truque básico agora foi usar técnicas de transgenia (importar DNA de outros organismos) para produzir uma maior paleta de cores --cerca de 90 tonalidades distintas.
"Da mesma maneira que um monitor de televisão codifica cores ao misturar três canais primários --vermelho, verde e azul--, a combinação de três ou mais matizes corantes pode gerar muitas tonalidades diferentes", escreveram os cientistas.
da Folha Online
2 comentários:
Pergunta: Se eu resolvesse fazer um livro sobre por exemplo: "Fernando Vale na obra de Miguel Torga"
Quem era o autor do livro? Era Miguel Torga?
Raul,
É a medicina, como tudo na vida, em constante evolução.
Às vezes assusta-me não saber até onde o ser humano pode ir...
Abraço.
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