quarta-feira, janeiro 16, 2008

Veneno de cobra pode virar remédio para pressão alta na gestação

FELIPE MAIA
da Folha Online

Moléculas presentes no veneno da jararaca podem se tornar medicamento para tratar gestantes com pressão alta. A idéia, que está sendo testada por cientistas de São Paulo, é criar um remédio específico para a chamada pré-eclâmpsia.

Cientistas do Cat/Cepid (Centro de Toxinologia Aplicada), sediado no Instituto Butantan, estão trabalhando em uma classe de moléculas que tem capacidade de atuar sobre a pressão arterial. Um mecanismo dessa classe de peptídeos, que ainda não recebeu um nome, faz com que os vasos sangüíneos fiquem "relaxados", o que permite controlar a pressão.

A chamada pré-eclâmpsia atinge 10% das gestantes, segundo informações do Consenso Brasileiro de Cardiopatia e Gravidez. O problema pode gerar complicações para mãe e filho, podendo inclusive levar à morte.

De acordo com a instituição, a pressão alta é responsável por cerca de 30% dos óbitos maternos. Trata-se de uma das maiores causas de morte durante a gestação.

Segundo a farmacologista Claudiana Lameu, uma das pesquisadoras que trabalha no projeto, o medicamento apresentou resultados promissores em testes em ratos, que ainda não foram completamente finalizados.

Quando os animais apresentavam pressão alta, o uso da substância fez com que esse índice voltasse a níveis normais.

No momento, os cientistas deram início a testes in vitro, para analisar o efeito da substância sobre os tecidos da placenta e do cordão umbilical.

Sob medida

Segundo Lameu, a expectativa é criar um medicamento específico para a pressão alta durante a gestação. "Os remédios para tratamento de pressão alta não funcionam para a pré-eclâmpsia. Além disso, precisamos de algo que não prejudique o feto", diz.

Na visão da pesquisadora, os cientistas ainda não conseguiram explicar completamente os fatores que geram a pressão alta durante a gestação. Por isso, o medicamento não deve ser utilizado para prevenir a doença. A idéia é que a substância seja usada para tratamento no primeiro estágio da doença.

Em razão de o trabalho ainda estar em processo de pedido de patente, Lameu não revela qual é o mecanismo biológico que faz com que as moléculas encontradas no veneno de jararaca interfiram na pressão arterial.

Os pesquisadores estão aguardando financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para iniciar testes em humanos. Também a expectativa de fazer acordos com indústrias farmacêuticas. Não há prazo para o lançamento do produto.

Comentário

Se esta experiência resultar os actores brasileiros vão ter de deixar de usar a expressão jararaca no insulto às mulheres uma vez que o seu veneno pode vir a ser considerado extremamente importante para resolver os problemas de pressão alta durante a gestação.


1 comentário:

augustoM disse...

Quem havia de dizer que as jararacas ainda podem virar coisa boa. Nada de generalidades, as sogras continuam com o monopólio das más jararacas.
Um abraço. Augusto