FELIPE MAIA
da Folha Online
Moléculas presentes no veneno da jararaca podem se tornar medicamento para tratar gestantes com pressão alta. A idéia, que está sendo testada por cientistas de São Paulo, é criar um remédio específico para a chamada pré-eclâmpsia.
Cientistas do Cat/Cepid (Centro de Toxinologia Aplicada), sediado no Instituto Butantan, estão trabalhando em uma classe de moléculas que tem capacidade de atuar sobre a pressão arterial. Um mecanismo dessa classe de peptídeos, que ainda não recebeu um nome, faz com que os vasos sangüíneos fiquem "relaxados", o que permite controlar a pressão.
A chamada pré-eclâmpsia atinge 10% das gestantes, segundo informações do Consenso Brasileiro de Cardiopatia e Gravidez. O problema pode gerar complicações para mãe e filho, podendo inclusive levar à morte.
De acordo com a instituição, a pressão alta é responsável por cerca de 30% dos óbitos maternos. Trata-se de uma das maiores causas de morte durante a gestação.
Segundo a farmacologista Claudiana Lameu, uma das pesquisadoras que trabalha no projeto, o medicamento apresentou resultados promissores em testes em ratos, que ainda não foram completamente finalizados.
Quando os animais apresentavam pressão alta, o uso da substância fez com que esse índice voltasse a níveis normais.
No momento, os cientistas deram início a testes in vitro, para analisar o efeito da substância sobre os tecidos da placenta e do cordão umbilical.
Sob medida
Segundo Lameu, a expectativa é criar um medicamento específico para a pressão alta durante a gestação. "Os remédios para tratamento de pressão alta não funcionam para a pré-eclâmpsia. Além disso, precisamos de algo que não prejudique o feto", diz.
Na visão da pesquisadora, os cientistas ainda não conseguiram explicar completamente os fatores que geram a pressão alta durante a gestação. Por isso, o medicamento não deve ser utilizado para prevenir a doença. A idéia é que a substância seja usada para tratamento no primeiro estágio da doença.
Em razão de o trabalho ainda estar em processo de pedido de patente, Lameu não revela qual é o mecanismo biológico que faz com que as moléculas encontradas no veneno de jararaca interfiram na pressão arterial.
Os pesquisadores estão aguardando financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para iniciar testes em humanos. Também a expectativa de fazer acordos com indústrias farmacêuticas. Não há prazo para o lançamento do produto.
ComentárioSe esta experiência resultar os actores brasileiros vão ter de deixar de usar a expressão jararaca no insulto às mulheres uma vez que o seu veneno pode vir a ser considerado extremamente importante para resolver os problemas de pressão alta durante a gestação.
1 comentário:
Quem havia de dizer que as jararacas ainda podem virar coisa boa. Nada de generalidades, as sogras continuam com o monopólio das más jararacas.
Um abraço. Augusto
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