quinta-feira, novembro 17, 2005

Aquecimento pode ser desastre para saúde
REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos,
e da OMS (Organização Mundial da Saúde), traçaram o primeiro
esboço abrangente dos efeitos que o aquecimento global poderá
ter sobre a saúde humana --e o quadro que emergiu não é nada
bonito. Segundo eles, 5 milhões de casos das mais variadas
doenças já são causados pelo problema, e o risco de moléstias
relacionadas a ele pode dobrar por volta de 2030.

A equipe coordenada por Jonathan Patz, de Wisconsin, está
lançando seu alerta na edição de hoje da revista científica
"Nature" (www.nature.com). Embora ressaltem que há enorme
incerteza nas tentativas de prever um sistema tão complexo
quanto o clima da Terra, os pesquisadores deixam claro que os
riscos são reais.

Pior: as projeções sugerem que os mais prejudicados serão
justamente os países mais pobres do planeta, que contribuíram
menos para a enrascada climática na qual a humanidade mergulhou
(já que usam menos combustíveis fósseis, a principal fonte dos
gases que esquentam o planeta) e que têm menos condições
financeiras para lidar com o aumento de doenças. "Trata-se de
um enorme desafio ético global", disse Patz em comunicado oficial.

O que os pesquisadores fizeram foi integrar uma enormidade de
dados dispersos que já ligam o aquecimento global a problemas
de saúde. Durante o século 20, a temperatura média da Terra
subiu 0,7C. Estima-se que, nos últimos 30 anos, esse aumento
modesto já tenha desencadeado 150 mil mortes adicionais por ano.

A primeira contribuição do aquecimento nessa contabilidade
parece ser a das próprias variações extremas de temperatura,
que, segundo os climatologistas, devem aumentar mais e mais
conforme o planeta sai de seu estado de equilíbrio. O verão
de 2003 na Europa, por exemplo, foi o mais quente dos últimos
500 anos e matou entre 22 mil e 45 mil pessoas. Em todas as
grandes cidades, o aquecimento também deve exacerbar o
problema das ilhas de calor, no qual prédios e asfalto retêm
muito mais radiação térmica que áreas não-urbanas.

A variabilidade climática também pode significar fome, já que
as colheitas estão mais vulneráveis ao calor ou ao frio
extremos. E a fome deixa o organismo humano mais vulnerável a
parasitas de todos os tipos, que podem prosperar num planeta
mais quente. Os dados sugerem que doenças como malária, cólera
e dengue teriam condições mais favoráveis para se expandir num
planeta mais quente, em parte porque os insectos que as carregam
(caso da malária e da dengue) teriam mais facilidade para se
reproduzir.

O impacto desses problemas deve ser sentido principalmente na
África e nas regiões tropicais banhadas pelos oceanos Pacífico
e Índico, bem como, em menor escala, na América Latina. Grandes
metrópoles de urbanização desordenada também correm grandes
riscos.

da Folha Online

Nada disto surpreende, bem pelo contrário todas as conclusões
a que se possa chegar quanto aos malefícios que o efeito estufa
está e continuará a causar no meio ambiente ou nas pessoas são
uma consequência da ignorância duma realidade que todos nós
pretendemos não ter em linha de conta.

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