domingo, abril 09, 2006

McDonald's devasta Amazônia, acusa ONG
CLAUDIO ANGELO
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo

Depois da conexão hambúrguer, a conexão Chicken
McNuggets. Um relatório da ONG ambientalista Greenpeace,
divulgado ontem, afirma que consumidores de fast-food na
Europa podem estar contribuindo involuntariamente com o
desmatamento na Amazônia, ao consumir frango alimentado
com soja plantada na região da floresta.

O documento, intitulado "Comendo a Amazônia", afirma que
o McDonald's, maior rede de fast-food do mundo, compra
frango de uma subsidiária da multinacional americana de
alimentos Cargill, apontada pelo Greenpeace como uma das
principais "criminosas" por trás da expansão predatória da
soja na Amazônia.

A Cargill disse que não poderia comentar o relatório, por
tê-lo recebido somente ontem. A direção do McDonald's no
Reino Unido disse que iniciaria "imediatamente" uma
investigação sobre o caso.

"A produção da soja incorpora uma enorme cadeia de
ilegalidades, e elas terminam no prato de alguém na Europa"
, disse ontem o coordenador da campanha Amazônia do
Greenpeace, Paulo Adário. Essas ilegalidades vão do
desmatamento além da reserva legal (a lei brasileira
determina que 80% da área de propriedades na Amazônia
deve ser mantida como floresta, determinação que quase
ninguém cumpre) até o uso de trabalho escravo, visto em
fazendas do Pará e de Mato Grosso.

Ele afirmou que o relatório é resultado de um ano de
investigações feitas pela ONG, que acompanhou
carregamentos de soja saídos da Amazônia.

Multinacionais

Segundo o Greenpeace, a soja é hoje a maior ameaça à
floresta, e teve um papel crucial na explosão do
desmatamento nos últimos anos (em 2003/2004, a
devastação chegou a 27.000 km2). Mato Grosso, principal
produtor do grão no país --e campeão absoluto de
desmatamento--, viu a área plantada com soja dobrar
desde 1996.

Empurradas pelo aumento da demanda mundial e pela
fartura de terras na Amazônia, grandes multinacionais
de alimentos dos EUA começaram a investir em
infra-estrutura, como silos e estradas, e no financiamento
de sojicultores na região. Segundo o relatório do
Greenpeace, 60% do financiamento à produção de soja
no país vem de três empresas: a ADM, a Bunge e a Cargill.

Esta última é classificada como a principal vilã das três.
A acusação se deve sobretudo à construção de um porto
para escoamento de soja em Santarém, no Pará. O porto
da Cargill sofreu contestações por parte do Ministério
Público, que considerou insuficientes os estudos de impacto
ambiental apresentados para a obra. O porto foi, ainda, o
indutor da recente expansão da soja para a região de
Santarém.

Do porto de Santarém a soja vai para Liverpool, na
Inglaterra, onde é processada pela Sun Valley, subsidiária
da Cargill que usa a oleaginosa como ração de frango.
A Sun Valley é o principal fornecedor de frango para o
McDonald's em 46 países.

Frango escaldado

Adário apelidou essa teia comercial de "conexão Chicken
McNuggets", em alusão à expressão "conexão
hambúrguer", criada pelo ecólogo Norman Myers na
década de 1980 para explicar como o aumento no consumo
de carne nos EUA fazia aumentar o rebanho bovino e o
desmatamento na América do Sul. "Estamos pedindo que
o McDonald's tire a Amazônia do cardápio", disse.

"Estamos muito preocupados com essas questões ligadas
ao ambiente tanto em relação à nossa atuação como às
responsabilidades de toda nossa rede de fornecedores",
disse o diretor de Qualidade e Segurança do McDonald's
Europa, Keith Kenny. "Além de analisar cuidadosamente
o relatório iniciaremos uma investigação imediatamente
sobre o caso."

Comentário

São cada vez mais os motivos que os frequentadores desta
cadeia alimentar têm para deixar de incluir na sua lista de
preferências como local para consumirem as suas refeições

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