sábado, janeiro 28, 2006

Italiano processa padre para que prove existência
de Jesus

ASSIMINA VLAHOU
da BBC Brasil, em Roma

Pela primeira vez em 2000 anos, a existência de Jesus Cristo,
depois de ter provocado guerras, disputas teológicas e
conflitos religiosos, pode acabar num tribunal internacional.

É o que promete Luigi Cascioli, o homem que desafia um padre
italiano a provar, na justiça, que Cristo existiu de verdade.

A primeira audiência do processo foi nesta sexta feira, na Itália.

"Primeira e última”, promete em entrevista à BBC Brasil o
advogado do padre Enrico Righi, que está sendo acusado de
"abuso da credulidade popular" e "substituição de pessoa".

Filho de Judas

De acordo com o advogado Bruno Severino, o juiz dará uma
resposta em poucos dias e pode arquivar o caso ou decidir
que devem ser feitas outras investigações.

"Imagine uma perícia sobre a existência de Jesus!",
exclamou, incrédulo, o advogado.

O acusador é Luigi Cascioli, ex-agrônomo, aposentado, que
se define como "ateu militante".

Há três anos ele decidiu processar o pároco da cidadezinha
de Bagnoreggio, perto de Roma, e através dele toda a Igreja
Catolica. Estão sendo acusados de não ter provas sobre a
existência de Cristo e de fazer com que as pessoas acreditem
em algo que não existe.

A acusação de baseia em textos, escritos e distribuídos pelo
sacerdote aos fiéis.

Além disso, segundo Cascioli, usaram uma outra pessoa, que
existiu de verdade, para construir a identidade de Jesus.

Giovanni di Gamala, filho de Judas, o Galileu, da Casta dos
Asmoneus, descendente da estirpe de Davi.

'Destruir o Cristianismo'

Segundo o paroco de Bagnoreggio, que sozinho deve responder
pela História da Igreja diante do tribunal italiano, Giovanni
di Gamala é um desconhecido.

"Quem era e o que fez? Parece que apenas o senhor Cascioli
sabe de sua existência", escreveu na revista de sua paróquia,
citando personagens históricos, não ligados ao cristianismo,
que teriam comprovado a existência de Cristo, como Adriano,
Marco Aurélio, Tácito.

O padre Enrico Righi coloca em dúvida a autoridade científica
de seu acusador, que, segundo ele, não tem formação de
historiador e nem conhece línguas antigas.

"Depois de 50 anos de sacerdócio, esperava ter um pouco de
descanso e no entanto acabei no centro de uma disputa
ridícula sobre a existência histórica do homem Jesus",
desabafou o padre.

O Vaticano, até agora, não se pronunciou sobre o caso.

Luigi Cascioli alega que seu objetivo é "mostrar a verdade
e destruir o cristianismo". E acredita na possibilidade de
ganhar a causa com as provas que entregou ao tribunal.

Para provar que Jesus não existiu, escreveu até um livro,
"A Fábula de Cristo".

Haia

Baseando-se na análise de textos antigos e da Bíblia, ele
afirma que as provas para demonstrar a existência de Cristo
são a manipulação e falsificação de documentos que, na
realidade, se referem a Giovanni di Gamala.

A repercussão do caso pode ajudar na divulgação do livro.

Mas Cascioli garante que este não é o seu objetivo.

"Podem dizer isto, não me importa. Não posso deixar de
vender meus livros só para que não digam que quero
vendê-los", se defende.

De acordo com o advogado do padre Enrico Righi, Cascioli
se acha no direito de poder expressar sua opinião e nega
este direito ao sacerdote.

"Se não existe um crime de opinião, ele não pode ser
acusado. Seria um caso único, ser considerado culpado
porque cumpriu seu dever de ministro da Igreja Católica e
exercitou seu direito de opinião, dizendo o que pensa.
Nada que possa ser levado a um tribunal."

Para o advogado Severino Bruno o caso está praticamente
resolvido.

Não para Cascioli, que pretende insistir. E sempre contra o
padre Righi, usado como representante da igreja e até do
papa que, como chefe de Estado estrangeiro, não pode ser
processado.

"Se a sentença não for satisfatória, vou recorrer. E se não
der certo, estou disposto a ir até o Tribunal Internacional
de Haia", declarou Cascioli, na conversa com a BBC Brasil.

Claro que a sentença não vai ser condenatória nem na Itália
nem em Haia. Qual o Juiz que se vai atrever a meter com
esta forte confissão religiosa, declarado provada a não
existência de Cristo.

1 comentário:

Marcos disse...

sinceramente, bastou aos"interessados" buscarem a verdade, a mesma se fez luz. Não há necessidade de se processar ninguém os fatos com o tempo virão. Me firmo no filme "O Corpo" com Antonio Bandeiras, acredito que se houvesse um deslumbramento geral, voltaríamos a idade das trevas